Essa semana foi corrida e atribulada, como era de se esperar.
Ver minha casa ficando vazia aos poucos foi estranho e até Olívia, no alto dos seus dois anos, estava ligeiramente estressada e, por que não dizer triste, ao ver aquele lugar que foi seu lar e sua referência de segurança, tão impessoal.
Eu e ela viemos pra São Paulo na quinta de manhã, passar a nossa última semana com minha família antes de partir. Dory vem sábado com as malas.
Foi difícil a despedida da família do Rio. Foi difícil vê-los tristes com a nossa partida. É difícil sofrer e fazer sofrer.
Eu costumo brincar que ter ido morar no Rio foi meu cursinho pré-vestibular. Foram quatro anos de preparação, vivendo longe da minha família, aprendendo a lidar com as despedidas e a conviver com a saudade. Agora a prova se aproxima. Quero ser aprovada!
Esse ciclo acabou. Fechou-se. Está encerrado. Outros começarão e muitos outros também acabarão. É a vida que segue sua dinâmica. É a vida que ensina, que faz chorar mas que também traz tantas alegrias, pessoas, ocasiões.
O ciclo se fechou. Um outro, novinho, está se abrindo...
"O Senhor disse a Abrão: - Sai da tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu vou te mostrar." Gn.12,1
sexta-feira, maio 29, 2009
domingo, maio 24, 2009
Era uma casa muito engraçada
Era não, é. A casa em questão é a nossa. Armários vazios, geladeira desligada e vendida, quarto da Olívia desativado. Casa de mãe, sogra, avó acabou virando um mini depósito de coisas que não vão com a gente por enquanto ou que talvez nunca irão, mas que também são preciosas demais para serem jogadas fora. Pouco a pouco as coisas estão indo embora. É estranho, tem horas que da um apertozinho no peito, mas por outro lado da um alívio pensar que tudo está se resolvendo.
A gente pratica o desapego dia a dia. Doamos um monte de coisas ao orfanato, brinquedos, roupas, banheira de bebê. Isso faz bem ao coração. Algumas outras foram vendidas.É estranho estar num lugar que não é mais a sua casa e está ficando cada dia mais impessoal. Até terça-feira temos nossa cama, mas a partir daí já vamos dormir num colchão no chão, estilo acampamento. Olívia vai adorar.
Pra falar a verdade, cada vez que tirávamos algo do quarto dela, ela chorava. Passamos a fazer isso quando ela estava dormindo e ela nem sentiu tanto. Acho que no fundo ela sabe que tem mudança à vista.
Esse texto da Martha Medeiros é bem conhecido, mas eu acho legal deixar aqui, registrado, assim eu mesma posso lê-lo cada vez que der vontade de chorar pelas minhas coisas que já se foram.
Vende-se Tudo
Martha Medeiros
No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos.
O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma .No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.
Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida... Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile . Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa. Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.... E só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir, é melhor refletir e começar a trabalhar o desapego já!
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma .No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.
Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida... Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile . Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa. Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.... E só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir, é melhor refletir e começar a trabalhar o desapego já!
domingo, maio 17, 2009
O frio na barriga
É... inevitavelmente ele chegou. E já tem um tempo.
Geralmente ele se acentua a noite. Durante o dia eu encaro tudo mais numa boa, mas quando chega a hora de dormir, os pensamentos vão longe. O que parecia distante fica cada dia mais próximo e a data do embarque está chegando.
Tem horas que bate um ligeiro desepero. Dá vontade de sair correndo.
Eu sei que estamos no caminho certo, mas é impossível não pensar que o grande dia se aproxima.
Geralmente ele se acentua a noite. Durante o dia eu encaro tudo mais numa boa, mas quando chega a hora de dormir, os pensamentos vão longe. O que parecia distante fica cada dia mais próximo e a data do embarque está chegando.
Tem horas que bate um ligeiro desepero. Dá vontade de sair correndo.
Eu sei que estamos no caminho certo, mas é impossível não pensar que o grande dia se aproxima.
domingo, maio 10, 2009
Para minha mãe
terça-feira, maio 05, 2009
Mais uma página virada
A um mês de nosso embarque, ainda temos muito pra fazer, mas tudo está caminhando dentro do programado.
Mais uma página foi virada nesse história rumo ao Canadá: Dory saiu do emprego. Ele havia avisado sobre os planos de mudança em fevereiro e graças a Deus conseguiu um acordo no trabalho para que fosse demitido.
Dia 30 de abril foi o último dia dele no trabalho e desde então ele está em casa, sem emprego, mas não sem trabalho (porque o que não falta é coisa pra ser feita).
Tudo está se encaixando, como tem sido desde sempre. Dá um certo pavor pensar que estamos sem uma fonte de renda, mas temos muita fé de que isso será apenas um estágio temporário de nossas vidas.
Apesar das dificuldades que imaginamos que encontraremos por lá, pretendemos trabalhar o quanto antes, que é o que todo imigrante sonha.
Em breve pretendo escrever outro post falando sobre isso. Como nossas profissões requerem validação de diploma, nosso caminho será, diríamos, um pouquinho mais árduo. Mas estamos dispostos a recomeçar.
As mangas já estão arregaçadas!
Mais uma página foi virada nesse história rumo ao Canadá: Dory saiu do emprego. Ele havia avisado sobre os planos de mudança em fevereiro e graças a Deus conseguiu um acordo no trabalho para que fosse demitido.
Dia 30 de abril foi o último dia dele no trabalho e desde então ele está em casa, sem emprego, mas não sem trabalho (porque o que não falta é coisa pra ser feita).
Tudo está se encaixando, como tem sido desde sempre. Dá um certo pavor pensar que estamos sem uma fonte de renda, mas temos muita fé de que isso será apenas um estágio temporário de nossas vidas.
Apesar das dificuldades que imaginamos que encontraremos por lá, pretendemos trabalhar o quanto antes, que é o que todo imigrante sonha.
Em breve pretendo escrever outro post falando sobre isso. Como nossas profissões requerem validação de diploma, nosso caminho será, diríamos, um pouquinho mais árduo. Mas estamos dispostos a recomeçar.
As mangas já estão arregaçadas!
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