domingo, maio 24, 2009

Era uma casa muito engraçada


Era não, é. A casa em questão é a nossa. Armários vazios, geladeira desligada e vendida, quarto da Olívia desativado. Casa de mãe, sogra, avó acabou virando um mini depósito de coisas que não vão com a gente por enquanto ou que talvez nunca irão, mas que também são preciosas demais para serem jogadas fora. Pouco a pouco as coisas estão indo embora. É estranho, tem horas que da um apertozinho no peito, mas por outro lado da um alívio pensar que tudo está se resolvendo.
A gente pratica o desapego dia a dia. Doamos um monte de coisas ao orfanato, brinquedos, roupas, banheira de bebê. Isso faz bem ao coração. Algumas outras foram vendidas.É estranho estar num lugar que não é mais a sua casa e está ficando cada dia mais impessoal. Até terça-feira temos nossa cama, mas a partir daí já vamos dormir num colchão no chão, estilo acampamento. Olívia vai adorar.
Pra falar a verdade, cada vez que tirávamos algo do quarto dela, ela chorava. Passamos a fazer isso quando ela estava dormindo e ela nem sentiu tanto. Acho que no fundo ela sabe que tem mudança à vista.
Esse texto da Martha Medeiros é bem conhecido, mas eu acho legal deixar aqui, registrado, assim eu mesma posso lê-lo cada vez que der vontade de chorar pelas minhas coisas que já se foram.
Vende-se Tudo
Martha Medeiros
No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos.
O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma .No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.
Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida... Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile . Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa. Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.... E só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir, é melhor refletir e começar a trabalhar o desapego já!

14 comentários:

Unknown disse...

nossa, concordo... por mais que para mim tb seja difícil acho que será uma lição e tanto... quando eu era pequena não deixava minha mãe jogar papel amassado que tinha no meu quarto... mas vamos aprendendo.. e temos que pensar que teremos coisas novas, bacanas, e adequadas a nossa "nova vida".... beijocas

Fernando e Silvia disse...

Re,para uns ato de coragem, para outros loucura!!! Para mim um aprendizado, um recomeco!! Nao e facil, mas devagar vamos contruir tudo de novo!!
Venha que as tulipas te esperam!!
Beijos,
Silvia

Mariana disse...

As crianças são muito sensiveis e percebem tudo o que está acontecendo. Mas assimilam as coisas com muito mais facilidade que os adultos.
Pense que tudo pode ser comprado novamente e que as alegrias que vc teve no seu apartamento ninguem conseguira tirar de vc, mesmo levando os seus moveis embora.
E não esqueça de deixar o colchao para o ultimo dia!
bj e fique bem.

.Mariana.Daniel. disse...

Oi Re,

Adoro esse texto! Não vejo a hora de estar com minha casinha toda desengonçada! hihihi

Tudo de bom pra vcs!!!

Bjs,
Mari

Lá e Dá disse...

Olá
ötimo texto... vou usá-lo em breve lá no Frizzen, tá bom???
Pq. para desespero da família e amigos, estamos por enquanto bem tranquilos em vender tudo o q. temos. E esse texto demonstra bem o q. sentimos.
Abraços e boa semana

Chocólatra disse...

aiii..imagino...ainda não passei por isso mas imagino que deva ser duro. me conta, vc conseguiu vender quase tudo ou achou complicado vender as coisas? Vc anunciou aonde?
bjkas

Neuzinha disse...

Re,

Realmente esse aprendizado em relação ao desapego , é singular e quando coneguimos nos libertar do ter e nos entregamos ao Ser, somos mais felizes.
Que Deus continue abençoando os próximos passos e a chegada a adaptação aqui.

Abração, Neuzinha

Gisa disse...

Nossa Rê, fiquei emocionada ao ler seu post. Simplesmente lindo, com uma lição de vida importantíssima!

Amiga, muitas felicidades pra você e toda sorte de bênção!

bjos,
Gi

Temperatura Máxima no Canadá disse...

Me emocionei com o post. Realmente, se apegar às coisas não é legal, mas tb não é fácil abrir mão do conforto que essas coisinhas nos proporcionaram durante tanto tempo em nossa vida...
É como vc disse, é um exercício diário esse desapego.

Boa sorte!!!

Bjão

Rosi

MIRIAN disse...

LINDA DA MAMÃE!!!!!!!!!!
lINDO DA SOGRA!!!!!!! E MAIS LINDA AINDA DA VOVÓ!!!!!!!!
É MEUS FILHOS, ESTÁ CHEGANDO A HORA.
MAS, ELE MAIS DO QUE NUNCA ESTÁ NO CONTROLE DESTA SITUAÇÃO.
FILHOS, VIDA NOVA, CASA NOVA E COISAS NOVAS.
DEUS SEJA LOUVADO SEMPRE.
BEIJOS.

Sergio disse...

Poxa eu acho que sou meio maluco. Sou apegado a tudo. Tão apegado que minha casa no Brasil está intocada, todos os móveis estão lá, esperando por um retorno que todos sabem que nunca vai haver.
E capital empatado, rs.

Andréa disse...

Rê, se precisar de uma xícara de açúcar, é só pedir... heheheheh! Vai em frente, amiga. Como diz o velho ditado "vão-se os anéis, ficam os dedos". E são esses dedos e essas mãos que vão nos ajudar a recomeçar tudo no nosso novo país!
Beijos e (já) saudades,
Andréa
www.picolecarioca.com.br

Paola disse...

Renata, achei lindo seu post e o texto que vc adicionou. Concordo plenamente com ele. Ha um ano atras esavamos voltando pro Brasil (de Israel) e vendi muitas coisas, com as quais aprendi a viver sem, pois depois que nossa volta foi cancelada nao comprei nada de novo (peguei uma cama e um berco pras meninas emprestado e me viro com uma mesa de plastico pras refeicoes). agora estamos com planos de irmos pro canada e nao vvejo a hora de ter minha casa "baguncada e vazia" outra vez.
desejo a vcs muita sorte e sucesso!
beijos e abracos,
Paola

Eliane disse...

Renata,Dory e Olivia,
fiquei feliz em ler esse seu post, nada nessa vida eh por acaso, as recompensas virao, saiba que no inicio nao eh facil, mas devagarinho voce vai conquistando tudo de novo. Venha com esse coracao maravilhoso que vc tem, cheio de amor e confianca que tudo darah certo.
Grande beijo, Eliane